Generation Waking Up: Igniting a Movement

terça-feira, 15 de abril de 2008

O Sr. Marmelada…

O Sr. Marmelada…A noite estava calma. Sem vento, quase morna.O local tem algumas pessoas sentadas á mesa. Estas, com toalhas de papel branco, os pratos espaçadamente colocados, e por cima, em tom de remate, os guardanapos de cor azul e rosa choquing.
Paira no ar uma música, muito suave, estilo jazz.
Sentamo-nos.
Aproximou-se de nós e, enquanto pergunta o que vão comer, acende as velas do castiçal.
Sim, porque cada mesa tem o seu castiçal.
Discreto, com o seu glamour, traz-nos a carta de mesa.
A comida é essencialmente de gastronomia alentejana, como era de esperar.
À parte, em dois pedacitos de papel de bloco, apresenta-nos outros “pratos” à escolha.
Bem á maneira simples, alentejana, convida-nos a estar á vontade na sua casa de pasto.
Aproximando-se de novo, perguntou:
Então… Já escolheram? Olhem este prato é bom! Ou este… muito bom!
Depois de decidido o que queríamos comer, queríamos beber.
Beber aquele vinho alentejano… o tal!!!
E no primeiro grog o delicioso sumo de uva escorregou tão bem, que repeti o gesto, e em golos pequenos, ia bebericando. Hum… delicioso.
A minha alma se iluminou.As palavras fluíam.
A conversa desenrolava-se espontaneamente.
Os assuntos eram diversos.E fomos entrelaçando o ambiente, cruzando dúvidas, expectativas, desafios, na tentativa de vislumbrar algo de positivo, de saudável.
Algo que renascesse do velho saudosismo, típico da nostalgia portuguesa sebastianista.
A dado momento questionei com saudade… E a marmelada? Essa gostosa marmelada? Podemos provar? É excelente!
Foi o toque para falar de todos os cheiros, paladares que a Natureza nos abençoou, por mais rebelde que ela seja.
Recordar os locais que marcaram a alguns por breves passagens com cheiro a maresia, sopa da Fatinha à mistura com vinho quente e limão.
E a outros, dias, anos, semeando a vida, construindo pedra a pedra, a magia do lugar, de onde viam partir o barco de pesca do Ti Manel, onde se fazia a festa da abertura da lagoa, naquele dia em que ela abraçava loucamente o Mar.
São destes e outros momentos que fazem desta Melides, um lugar muito mágico !!!
Como ele mesmo dizia, o Sr. Marmelada… este chão que pisamos, começou a ser pisado por mim aos 12 anos… é muita fruta!
Num gesto doce, passou a mão pelo colete preto, deu dois passos em frente debruçando-se sobre a nossa mesa, continuou, quase em segredo, quase em saudade… isto que aconteceu na praia… a tudo ir abaixo, enquadra-se no meu espaço, hum! O momento é de sofrimento, é de dor.Há choques que já se deram… é semelhante ao que se está a passar agora!
O importante é preservar!
E numa palmada suave sobre a mesa, perguntou-nos… Uma ginjinha? Um moscatel?
Olhando para ele não restam dúvidas, de como é forte este homem.
Quase que o posso assemelhar a um rochedo, em que a água do mar bate, rola, quase que o cobre, mas ele fica de pé.
E está de pé a sua esperança na qual a mudança só acontece quando se cambia os conceitos.
Em tom de remate, á medida que ia puxando a alavanca do café, afirmou… Não há segredos para desvendar, há momentos para cumprir!
É sábio, é génio!
Alguém que em poucos minutos fala tão profundamente sobre mudança, deixando transparecer o seu sentimento de solidariedade misturado com dor, com saudade do que já era.
E o tempo, este não permite voltar atrás.
Mas em simultâneo, o Sr. Marmelada tem a coragem de se chegar á frente, juntando os pés, encarando um futuro com firmeza, desafio, como se de uma pega de caras se tratasse á boa maneira ribatejana.
Salve pessoas como ele.
Teremos de aprender com ele.
Um bem haja pela sua força, envolvida em glamour, e com um gosto invejoso de marmelada.
Parabéns para si.


Paula Afonso(07.04.08 pelas 23.15)

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